A expectativa em torno do Santo Daime era gigantesca, beirava a fascinação. Quando provei pela primeira vez a bebida e senti o seu gosto amargo achei que não conseguiria engolir tudo. O estômago parecia terminantemente não aceitar e somente com um grande esforço consegui dar fim a minha porção sagrada. Sentado, a primeira coisa que percebi foi, que aquele dia tranquilo de brisa calma, logo após o início da sessão tinha se transformado em um entardecer de vento furioso, que gritava nas rebarbas das telhas como uma sirene arcaica a avisar que coisa grande estava por vir.
Passando pelos primeiros sintomas de mal estar físico, mais precisamente uma náusea acompanhada da sensação quase certeza de que iria vomitar a qualquer momento, levantei da roda e fui para fora do templo, sentei na escada, olhei as árvores sendo agitadas ferozmente pelo vento, a lua cheia ao longe no céu cada vez mais tingido de negro e tive minha primeira revelação: tudo era parte do mesmo todo. Eu, as árvores, meus irmãos, a lua, a fogueira, tudo era e é uma coisa só, ligada, diferentes aspectos de um mesmo objeto, o cosmo. A sensação de grandiosidade deste momento é inesquecível, não é o caso de sermos ligados a natureza, somos a própria natureza. Eu me senti pela primeira vez em total sintonia com o universo.
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